"Foram 11 dias, com certeza os piores da nossa vida em termos de saúde. É bem complicado. Os primeiros sintomas começaram a aparecer com muitas dores nos ossos, nos músculos, logo após febre e vômitos, isso nas primeiras 24 horas”, relata o representante comercial aposentado, Moacir Alves, 62 anos, sobre sua experiência com a dengue.
A doença, que vitimou 11 gaúchos ano passado, em março deste ano fez sua primeira vítima. Até o momento, dos 497 municípios, 433 são considerados infestados pelo Aedes aegypti, representando 87% do território gaúcho. É o maior número de cidades nessa situação na série histórica do monitoramento, realizado desde 2000.
De acordo com dados que constam no Informativo Epidemiológico de Arboviroses (doenças transmitidas por mosquitos) da Secretaria da Saúde (SES), divulgado esta semana por meio por meio do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS/RS), o RS registra até o momento 3.058 casos suspeitos de dengue, sendo 840 casos confirmados. Destes, 753 casos são autóctones (que se origina da região onde é encontrado, onde se manifesta).
O relatório ainda aponta que 143 municípios de 17 Coordenadorias Regionais de Saúde (Tabela 1) notificaram casos suspeitos de dengue e 43 municípios de 12 Coordenadorias Regionais de Saúde confirmaram casos autóctones no estado. Os casos autóctones de 2022 estão concentrados nos municípios de Rodeio Bonito (35%), de Porto Alegre (16%) e de Dois Irmãos (10%).
Sintomas físicos e psicológicos
Morador de Rodeio Bonito, cidade com o maior percentual de casos de autóctones, Moacir conta que ele e sua esposa, Inês, foram contaminados, sendo que ela teve que ir três vezes ao hospital, ficando três dias internada na última vez.
“Com 62 anos nunca pensei em passar tais momentos complicados. Na última vez que minha esposa foi ao hospital ficou três dias internada, com desmaios porque se desidratava demais. Eu passei mais leve porque conseguia tomar bastante líquido e um hidratante que existe nas farmácias. Tem gente que não consegue tomar porque ele tem um cheiro e um gosto muito ruim, mas eu consegui, então sofri menos”, relembra.
Em conversa com a médica que os atendeu, o aposentado foi informado que a duração dos sintomas teriam duração de três a 15 dias. No caso deles, foram 11. Contudo, segundo afirma, a recuperação ainda não é total. Além do físico, há também impactos psicológicos.
“A gente não se recuperou ainda 100%, tem muita canseira, o fígado não é mais o mesmo. E já faz mais de 30 dias. Estamos bem, mas com um trauma muito grande. Quando enxergamos uma mosca, já é o mosquito, enxerga um besouro, parece que é um mosquito. Eu disse, só falta ver um elefante e achar que é o mosquito também. Um trauma muito grande pela situação que dá”, desabafa.
Ao ser indagado sobre onde teria sido infectado, Moacir diz que não tem como saber, uma vez que todo o município está em situação de risco. Ele comenta que teve várias conversas com o prefeito que não deram resultados.
“A prova está aí, cada vez tem mais gente se contaminando. É uma doença nova aqui na nossa região. A gente pensava que só existia lá no norte, e tal. E pelo que a gente sabe o problema vai ser sério todos os anos porque o mosquito desova e vai ficar para o ano que vem para se reproduzir novamente. A preocupação é muito grande porque é muito sofrido. As pessoas só acreditam depois que elas são contaminadas e o sofrimento que passam”, afirma.
Quase 10% da cidade contaminada
Com uma população de 5.868 habitantes, Rodeio Bonito tem até o momento 581 casos confirmados, sendo 257 casos ativos. Diante do contexto preocupante, a prefeitura da cidade publicou no dia 16 de março um decreto de situação de emergência, com prazo de 90 dias, prorrogado por igual período. Segundo o texto o executivo municipal, agentes farão visitas as residências. Além disso, no último final de semana foi realizado um mutirão de combate à dengue.
"A cidade vem passando por uma pandemia", avalia Moacir. No decreto, a prefeitura de Rodeio Bonito diz que "uma epidemia de dengue coloca em risco a capacidade assistencial das unidades de saúde, pronto-atendimentos e hospitais".
O aposentado diz não entender a falta de responsabilidade com a grave situação. "No município, no mês de dezembro e janeiro, já tinha casos e a gente não conseguiu fazer com que se eliminasse as larvas e os mosquitos”, destaca.
Sobre o Aedes
O Aedes aegypti tem em média menos de 1 centímetro de tamanho, é escuro e com riscos brancos nas patas, cabeça e corpo. O mosquito costuma ter sua circulação intensificada no verão, em virtude da combinação da temperatura mais quente e chuvas. Para se reproduzir, ele precisa de locais com água parada. Por isso, o cuidado para evitar a sua proliferação busca eliminar esses possíveis criadouros, impedindo o nascimento do mosquito.
Cuidados com o mosquito
Os depósitos preferenciais para os ovos são recipientes domiciliares com água parada ou até na parede destes, mesmo quando secos. Os principais exemplos são pneus, latas, vidros, cacos de garrafa, pratos de vasos, caixas d'água ou outros reservatórios mal tampados, entre outros.
Entre as medidas preventivas que em casa a pessoa pode fazer estão:
- Manter tampada a caixa d’água, assim como tonéis ou latões que estejam expostos à chuva
- Guardar pneus velhos sob abrigos
- Não acumular água em vasos de plantas ou nos pratos onde ficam (cobrir com areia)
- Manter desentupidos ralos, canos, calhas, toldos e marquises
- Colocar embalagens de vidro, plástico ou lata em lixeira fechada
- Manter a piscina tratada o ano inteiro.
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